quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sonhos de um anoitecer - capitulo 3 -parte 2



Anahí acordou sentindo a cabeça pesada, ainda estava com os olhos vendados, mas pelo menos não estava mais no chão frio, para sua surpresa estava em uma cama. Tentou se mexer, mas que novidade estava com as mãos amarradas na cabeceira da cama. A droga que eles a deram ainda embaralhava seus pensamentos, mas sabia que estava drogada, por que não se lembrava de quando fora removida, daquele lugar frio, pra este outro que apesar de ainda estar com as mãos amarradas era de longe bem mais confortável. A porta se abriu e duas pessoas caminharam em sua direção junto com um barulho metálico. É incrível que quando se passa um tempo sem usar a visão os outros sentidos ficam bem mais aguçados.
- Ela ainda está inconsciente? –Perguntou uma voz masculina, ela sabia que havia ouvido a voz dele antes, mas não conseguia se lembrar onde.
- Não. A já deve ter passado o efeito. –Ah! Aquele desgraçado arrogante que lhe trazia o que eles chamavam de comida, ela chamava de lixo.
- Deixe-me a sós com ela. –E agora o que eles ainda querem? Já não bastaram me deixarem mais furada do que uma peneira? Anahí já havia passado horas pensando o que havia feito de errado para ser submetida a isso. Em uma época em que sua vida era perfeita, tinha o emprego que sempre quisera, era professora de jardim de infância, estava noiva de Rodrigo, e muito apaixonada, estava feliz. Mas em uma noite quando vinha do trabalho, nesse dia havia ficado até mais tarde com um aluno um pouco problemático, estava quase chegando em casa quando Rodrigo a ligou pedindo que a encontrasse em um parque que havia perto do colégio onde ela trabalhava, estranhou um pouco, mas mudou o rumo e seguiu em direção ao parque. Quando desceu do carro viu Rodrigo sentando em um dos bancos, caminhou até ele, mas antes mesmo de ele a avistar ela sentiu uma picada no pescoço e depois disso só se lembra das trevas. A última coisa que lhe foi permitido ver foi a imagem de seu amado sentado a esperando. Será que algum dia ela sairia daqui viva? E se conseguisse Rodrigo ainda a estaria esperando? Tantas perguntas, mas nenhuma resposta.
- Hoje seu amigo veio lhe visitar. Sei que você o chamou. –Disse a voz rouca, ele parecia velho ao que ela pode perceber. –consciente ou inconscientemente você o chamou e o trouxe até aqui. –Ele riu com um pouco de esforço, mais pareceu um pigarro. Anahí não prestava muita atenção ao que ele estava falando, não parecia lúcido, ela não se lembra de ter chamado ninguém, nem mesmo conseguia falar sentia tanta sede que um simples gesto como abrir a boca lhe doía.
- É uma pena que ele não teve a oportunidade de te ver pela última vez como humana, e muito menos a amiguinha dele, ela serviu bem ao nosso propósito, mas agora com você sobre nosso poder não temos mais necessidade de mantermos uma outra interna. Você é única Anahí, uma em um milhão, pensei que o antígeno lithop havia sido extinto e olha você. –O velho deu uma gargalhada estridente.
Novamente ela ouviu um barulho metálico, provavelmente a estavam preparando mais uma dosagem dessa droga que lhe davam sempre. Quando aquele pesadelo ia acabar? Sentiu uma picada no pescoço e um grito de dor eclodiu de seus lábios. Parecia que algo vivo entrava em seu corpo e o possuía, era como uma cobra de fogo serpenteando por suas veias espalhando seu veneno. Tinha a sensação de que seu corpo ia explodir de dentro pra fora, que aquele animal que a percorria de alguma maneira queria sair, um bolo agora prendia sua garganta impedindo-a de respirar. Então era isso, eles a prenderam, e a torturaram para matá-la da pior forma possível, isso não era justo. Aos poucos ela foi sentindo seu coração parar de pulsar. Sentiu-se mergulhar nas trevas, sua única companheira desde que lhe fora tomada a liberdade, sentiu o abraço da morte e o alivio da dor e viu-se caindo em um abismo.
Alfonso levantou-se da cama em um salto, a cabeça latejava e seus instintos gritavam “Perigo! Perigo!”, mas ele sabia que o perigo não era pra ele e sim para Anahí. Olhou para o radio relógio que ficava no criando mudo ao lado de sua cama e se surpreendeu já passava das sete da noite, ele jamais dormira tanto assim, pelo menos não depois dos sonhos que vinha tendo. Lembrou-se do sonho que teve este dia e tinha certeza, aquele desgraçado que falava com Anahí a havia transformando-a em vampiro. Como? Ainda era uma questão que teria de descobrir.