quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sonhos de um anoitecer - capitulo 2 -parte 3


Era ela! Tinha certeza! Caminharia sobre a luz do sol se estivesse errado. Nervosamente procurou por todo o escritório em busca do arquivo ao qual a foto fora arrancada. Não precisava dele, pois agora já sabia como se chamava, sabia quem era. Totalmente alheio as perguntas preocupadas dos amigos ele procurou até encontrar a pasta. E o medo pela confirmação de que estava certo se assomou em seu rosto. Anahí Puente. Como poderia ter se esquecido dela?
- Alfonso o que houve? Quem é ela? –perguntou Dulce com aparente preocupação. Seu estado devia ser horrível pois até Christopher demonstrou estar preocupado por ele.
Ele mostrou a foto e disse:
- É ela. –fez uma breve pausa. –A garota com quem eu sonho todos os dias durante dois meses seguidos.
- Ela? –Dulce não parecia acreditar muito na historia, mas não teve tempo pra pensar. Pois a porta do escritório se abriu bruscamente e um rapaz gritou.
- peguem-nos!
Todos os três olharam para a porta se entender, como eles haviam cometido esse deslize? Agora havia três homens armados e um magricela prontos pra atacar. Nas armas provavelmente haviam tranqüilizantes, isso dava um pouco de paz a Alfonso. Nenhum tranqüilizante era capaz de paralisá-los.
“ o que vamos fazer?” Dulce estava com os pensamentos calmos, quatro humanos não eram problemas, ela mesma podia cuidar deles sozinha, mas não estavam lá para lutar. Pelo menos não aquela noite.
“ vamos embora, eles já sabem o que somos.” Christopher parecia estar se divertindo com aquilo. “ por isso vamos com grande estilo” ele fez uma leve menção com a cabeça em direção a janela.
“ As vezes eu acho que você não é normal, mas eu gostei” sorriu.
Não havia passado nem meio segundo com tudo isso. Eles se viraram em direção a janela, transpassando a barreira de vidro, saltando do vigésimo andar. Pularam em direção ao telhado do prédio vizinho e uma chuva de pequenos cacos de vidros os seguiram arranhando seus corpos, mas isso era o de menos, após o sono, amanha a noite o ferimentos já desapareceriam.
Os agentes da Athemis apareceram na janela e atiraram contra eles, com o que eles os queriam ferir Alfonso ignorava, mas era engraçando eles realmente acreditavam que algo podia parar-los. Correram, pulando nos telhados o mais rápido que podiam, quando já estavam em uma distancia relativamente longe, eles pararam.
- Onde está Dulce? –Christopher se alarmou.
- Pode ter pegado outro caminho.
- Não creio. –Ele percorreu o lugar com a vista, a procura dela. “Dulce! Dulce!” Nada. Nenhum sinal dela.
- Deve estar inconsciente.
Que ótimo. Agora Dulce também sumiu, a poucas horas do nascer do sol. Será que as coisas podem piorar? Quando Alfonso finalizou esse pensamento Christopher já estava correndo de volta pra Athemis.
"Christopher! espere!"
"Não temos tempo!"
“Acha que eles a pegaram?”
“Eu vou achar qualquer coisa até que eu a veja segura.”Alfonso lutava pra conseguir deixar a mente em alerta, começou a seguir Christopher que já partia na direção oposta a que seguiam. De volta a Athemis.
Precisava manter os olhos abertos, tarefa difícil uma vez que Anahí agora penetrava todos os seus pensamentos. Saber quem era, agora, a garota que povoava seus sonhos o inquietou bem mais do que quando estava na completa ignorância. Parou de lutar com suas memórias que insistiam voltar e se permitiu regressar 15 anos atrás. Naquela noite o desejo por sangue o impulsionava, sua mestre, sua governanta o guiava. Já havia tempo que não se alimentava por autoflagelação, talvez ele fosse masoquista. Quem sabe? O sofrimento ajudava a manter a mente longe da culpa que sentia.
E naquela noite a sede o dominava levando-o em direção ao que podia saciá-lo, viu uma fazenda na beira da estrada em que seguia, estava correndo a toda velocidade, logo o sol nasceria, e aquela casa era sinônimo de “comida” e abrigo durante o dia. Era reconfortante pensar que logo iria se saciar. Procurava pensar nisso e não no fato de que teria que matar inocentes pra conseguir acalmar o monstro que habitava seu ser e que o controlava ao seu bel prazer.
Entrou na primeira janela que viu, era a cozinha, ouviu o batimento de três corações, esbanjando vida. Sentiu água na boca ao pensar no sabor daquele liquido escarlate descendo por sua garganta e saciando sua sede. Seguiu o mais pulsante, o mais jovem, parou em frente a porta do quarto. Ouviu a respiração regular, comprovando de que estava dormindo. Abriu a porta lentamente, olhou ao redor e parou na soleira da porta, era o quarto de uma menina, ele era um assassino, mas não de crianças, preparou-se pra sair, foi quando a menina levantou seu corpinho da cama com um braço e com o outro esfregava os olhos ainda pesados pelo sono.
- Papai? – Alfonso retesou o corpo, devia ter saído assim que percebeu que ela havia acordado, mas algo nele o impediu, algo o segurou exatamente ali, totalmente imóvel. –Não vai entrar? –Aquela voz ainda rouca pelo sono o libertou de seu transe, deu um passo atrás.
- Não vá! –a garotinha o chamou erguendo o braço como se assim conseguisse retê-lo lá.
- Não sou seu pai. –Alfonso se pegou dizendo, mas logo se arrependeu a menina poderia se assustar e gritar, acordando os pais dela que dormiam no quarto ao lado. Lá se vai minha refeição tranqüila.
- Eu sei.
- Alfonso! – A voz de Christopher soou em sua cabeça, o arrastando de volta para o presente. –Não escutou o que eu disse? Acorde! Lá está ela!
Alfonso obrigou seus pensamentos a se organizarem e observou a sua volta pra ver onde estava, perto, bem perto da Athemis. Exatamente a uma quadra de distância. Seguiu Christopher novamente até ver onde Dulce estava. Desacordada como ele suspeitava, mas o que aconteceu era um dilema. Sem tempo para pensar somente para agir. Christopher a agarrou e correram em direção a casa de Maite, com um pouco de sorte chegariam antes do nascer do sol. Aumentaram a velocidade, pulando os telhados, dos prédios. A alvorada estava surgindo, e o claro começava a incomodar suas visões e a queimar suas peles. Desceram para as ruas, onde eram mais lentos, com tantas estradas e vielas cheias de humanos, que não os veriam devido a velocidade em que corriam, mas era um risco.