sábado, 27 de junho de 2009

Sonhos de um anoitecer - capitulo 1 -parte 1


Capitulo um

Estava frio, escuro, ninguém ouvia seus gritos, ninguém ouvia seu choro.
- Me ajude. –A garota clamava em vão. –por favor, me ajude. –A respiração era ofegante, entrecortada e sem forças.
De repente um barulho e a porta se abriu, passos se aproximando, o medo a dominava, o seu carcereiro estava cada vez mais perto, mas ela não o via. Seus olhos estavam vendados e seus pulsos amarrados. Aquela respiração asquerosa em seu rosto e uma forte dor na cabeça. Ele ia fazer de novo.
- NÃO!
Alfonso acordou assustado, há semanas vinha tendo os mesmos sonhos que não o deixavam dormir, desceu para a cozinha, sabia que a essa hora seu amigo ainda estava dormindo. Eram cinco e meia da tarde, Nighel nunca acordava antes do sol se pôr, nem ele, mas aqueles sonhos o atormentavam, todos os dias.
Quando o relógio badalou as seis, Nighel desceu e seguiu direto para a cozinha sabia que seu amigo estaria lá, esses sonhos já o estavam preocupando, mesmo em seu mundo, essas coisas não eram normais. E como esperava, lá estava Alfonso, com uma aparência horrível de quem não dormira nada.
- você têm que tentar esquecer isso. –aconselhou Nighel adentrando na cozinha, Alfonso se virou para vê-lo, sabia que ele o estava observando.
- sabe que não consigo. Vai se alimentar? –perguntou quando o viu colocar a jaqueta e se dirigir a porta dos fundos.
- sabe que prefiro sangue fresco a essas bolsas de sangue que você usa. –dito isso abriu a porta e saiu a penumbra da noite, atrás de uma vítima que o satisfizesse.
Nighel era um vampiro a moda antiga, pensou Alfonso com desgosto. Não gostava desse nome para definir a sua espécie. Dava a impressão de estar falando sobre aqueles personagens de HQ que eram brancos, com seus caninos aparecendo sempre que abriam suas malditas bocas, mordendo sempre virgens inocentes. Ao contrario deles Alfonso não tinha a pele pálida, talvez até precisasse sim de uma corzinha, mas a não ser que quisesse queimar até virar cinzas não ia se arriscar a sair ao sol. Sua pele possuía a mesma tonalidade que sempre tivera antes de ser quem é agora. Seus caninos também não eram maiores do que os de uma humano normal. E quanto a virgens inocentes... Bom não vou negar que essa idéia sempre me apareceu bem atraente, pensou, mas não. Ele não era assim.
A décadas abandonou o hábito de matar, sobrevivia com bolsas de sangue roubada de hospitais, ao Nighel isso causava repulsa, ele dizia que Alfonso renegava a espécie e sua superioridade perante os humanos. Mas Alfonso não gostava de ser o que era, sentia saudades de sair ao sol, se lhe tivessem dado escolha entre preferir morrer ou essa vida, a morte com toda certeza seria sua opção. Mas aqueles malditos... Seus pensamentos foram interrompidos pelo relógio que anunciava as seis e meia, hora de ir trabalhar pensou. Será melhor ocupar minha mente com outras coisas que não sejam o passado e aquele sonho.
Se arrumou e saiu, sentiu o ar frio de Nova Iorque bater em seu rosto, ele não sentia frio, mas era adorável aquela sensação, o inverno já estava próximo, ia caminhando pelas rua movimentadas da grande metrópole em direção a boate onde trabalhava como bar man o que lhe servira bem esse emprego, trabalhava durante toda a noite e dormia durante todo o dia. Outra coisa que Nighel não entendia, mas será que alguma vez ele se perguntou quem pagava o aluguel da casa? Não acho que não. Alfonso ainda estava rindo de sua piada quando chegou a boate.
Já estava quase na hora de ir quando seu celular tocou. Nighel. Claro, quem mais séria? Quem ligaria para alguém as quatro da manhã? Pegou o celular e atendeu.
- Maite e sua comitiva estão vindo pra cá. –disse uma voz animada do outro lado da linha. Maite e Cia. Significava que Sally estava vindo também, o amor de Nighel desde que ele ainda era humano, mas jamais tivera coragem de se declarar.
- Puxa que bom Nighel. –Disse tentando parecer tão animado quanto o amigo.
- Sim, mas você sabe que Dulce também esta vindo. –A gota de alegria que Alfonso sentia por rever os amigos se esvaiu.
Dulce era adorável, se perdesse aquela mania de lhe apresentar as suas amigas a ele, sempre que vinha ela trazia alguém para apresentá-lo. Uma vez se queixara com Maite sobre, trazer “cargas demais” ela apenas riu. Nunca chegou a pedir a própria Dulce para que parasse, pois sabia que isso ia magoá-la. Pelo menos dessa vez tinha o emprego como desculpa. Suspirou aliviado.