quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sonhos de um anoitecer - capitulo 4 - parte 3

Reescrito:
Isso era loucura, Anahí pensou pela milésima vez. Ela estava a horas no telhado da casa de Maite olhando o manto da noite que cobria a cidade de Nova Iorque e ainda tentando digerir toda a conversa que havia tido com Alfonso, Dulce e Sally. Mas ainda não conseguia acreditar que ela, era uma vampira, essas coisas não existiam, não deviam existir.

—  Você está louco! –Foi a primeira reação de Anahí quando Alfonso a havia contado o que eles eram, o que ela era.
—  Pense bem Anahí. –Sally disse. –Você consegue sentir que não somos humanos, e mais, você tinha um enorme corte na cabeça, mas agora ele sumiu.
Instintivamente Anahí ergueu a mão até onde aqueles médicos a haviam cortado, ela se lembrou que havia muito sangue, e que este havia sujado todo aquele pijama de hospital. Olhou para baixo procurando o sangue, mas estava com outra roupa. Alguém a havia trocado enquanto dormia.
— Foi eu. –Dulce disse com um sorriso doce no rosto. É que aquela coisa era horrorosa e estava cheio de sangue.
Eles haviam contado que podiam ler as mentes uns dos outros e que até ela poder fechar sua mente seus pensamentos iam ser gritantes para todos. Anahí enrubesceu de vergonha naquele momento. Se eles podiam ouvir seus pensamentos então eles escutaram a avaliação que ela havia feito deles ao acordar.
— Não se preocupe. Alfonso havia dito com um sorriso que faria seu coração parar, se ele já não estivesse morto.
Sally e Dulce soltaram uma risadinha. Claro que elas haviam escutado isso, Anahí pensou, esse negocio de ler mentes era extremamente inconveniente. Com certeza todos já sabiam que ela sentia uma atração inexplicável por Alfonso, era uma ligação que ela não entendia, quase como se seu corpo estivesse tentando dizer algo que sua mente não sabia.
 Anahí caminhou até o parapeito do telhado, era uma queda e tanto até o chão, quatro andares, mas recordou outro momento da conversa, em que Alfonso havia dito que não seria nada pular de uma altura dessas. Ele disse que poucas coisas poderiam matar um vampiro, que qualquer ferimento se curava com o sono do dia, mas que devia evitar o sol porque igual como nas lendas eles eram fatais.
Ela olhou para o horizonte, faltava menos de uma hora para o nascer do sol, seu instinto de sobrevivência sabia a hora exata da alvorada. Seu corpo começava a sentir o cansaço que vinha com o sol.
 Anahí havia decidido ficar com eles até saber o que fazer agora que não podia mais ensinar. Christian não desconfiava mais dela depois de ter fuçado toda a sua mente em busca de algo. Apesar do desconforto Anahí não se incomodou com essa invasão porque afinal ela não se lembrava de muita coisa do tempo em que havia ficado presa na Athemis. Somente vozes falando coisas desconexas.
Mas Anahí sabia que antes de tudo ela devia dizer adeus a Rodrigo, ele foi seu namorado durante toda a adolescência. Ele estava lá quando seus pais haviam morrido em um acidente de carro, quando ela entrou pra faculdade e logo depois seu emprego como professora do jardim de infância. Ele sempre esteve com ela, nada mais justo do que ir dizer adeus pessoalmente. Certo?
Errado de acordo com Alfonso. Todos a haviam alertado que o nosso segredo devia ser mantido a qualquer custo e nunca devíamos ficar mais de cinco anos em um lugar, porque as pessoas perceberiam que nunca envelheceríamos. Mas Rodrigo a amava, se ela contasse pra ele, eles poderiam ficar juntos, eles... Obrigou- se a parar de pensar nisso, ela não queria ver Rodrigo morrer enquanto ela continuava intocada pelo tempo.
Sally havia dito que somente os que possuíam o antígeno lithop poderia se converter em vampiro, e que eles pensavam que esse antígeno estava extinto. O veneno nada mais servia para paralisar a vítima ou quando possuíam o antígeno, transformá-lo. Anahí estremeceu, isso a fez se lembrar do médico que havia matado. Tudo ainda era tão nebuloso em sua mente, suas lembranças daquele dia estavam todas embaralhadas.
Ela olhou para o céu ainda negro e decidiu ir ver Rodrigo. Tinha que vê-lo, sentir sua presença confortadora de sempre.
Ela pulou, sentindo um frio na barriga e por uma fração de segundo duvidou se ela conseguira aterrissar com vida. O leve baque que produziu ao cair graciosamente a lembrou de um gato. Ela caminhou até rua, vendo as pessoas começando o dia.
“Aonde vai Anahí?” Uma voz grossa e máscula ressoou em sua cabeça. “O sol já vai nascer, você não vai conseguir.”
“Ele vai me entender Alfonso.” Anahí lutou pra conseguir fechar a mente, mas ela não sabia como. Agora ela sentia a presença de sete mentes acompanhando- a.
“É melhor você voltar Anahí.” Dulce aconselhou. “Ele não irá entender. Os humanos nunca entendem.”
— Saiam de minha cabeça! –Ela gritou segurando a cabeça como se esta fosse explodir.
Viu que algumas pessoas a olhavam como se fosse uma louca, mas ela não se importou. Correu a uma velocidade que qualquer humano a alcançaria. Rodrigo não morava longe dali. Ela tinha que vê-lo, precisava vê-lo.
Anahí parou em frente à porta da casa de Rodrigo, tentando reunir forças para o que ia dizer. Ela não sabia o que realmente diria, mas tinha que dizer algo, mostrá-lo que ela estava bem na medida do possível após esses meses de desaparecimento.
— Vamos voltar Anahí, antes que o sol nasça. Anahí se virou abruptamente e viu Alfonso e Nighel a poucos metros de distancia dela.
— Ele vai entender! Vocês não o conhecem! —Ele se aproximou mais dela.
— Não vai. E você sabe disso. —Disse calmamente tocando-lhe o braço.
Sim, ela sabia. No fundo ela sabia que Rodrigo não iria entender. Foi entender isso que lhe escapou a única gota de esperança que lhe restava, de que sua vida seguira sendo a mesma, que tudo não passava de um maldito pesadelo.
Sem entender como ela percebeu que estava abraçada a Alfonso, dando vazão a toda dor que sentiu nesses últimos meses. Com ele, ela sentia se sentia segura, como se nenhuma dor pudesse tocá-la tão somente por estar em seus braços.